Os paradoxos da vida

A vida é um jogo de paradoxos, onde a única constante é a mudança. Essa frase reflete um conceito presente em muitos ensinamentos filosóficos e espirituais e trata-se de algo que poucos conseguem compreender.

Um paradoxo consiste em uma declaração ou situação que parece contraditória, absurda ou contraintuitiva, mas que pode conter uma verdade profunda. Podemos dizer não só que a vida está repleta de paradoxos, como também que suas questões mais profundas são paradoxais.

Às vezes, sentimos como se estivéssemos em um labirinto e ficamos completamente indecisos quanto a seguir o caminho da direita ou da esquerda. A confusão mental se intensifica à medida que a força dominadora desse planeta oculta, distorce ou manipula o conhecimento sobre questões existenciais, moldando-o para se encaixar ao paradigma materialista vigente. A atual sociedade parece ignorar a profundidade dessas questões, vivendo ou apenas sobrevivendo como se elas não existissem. Talvez pela conveniência em classificá-las como mais um dos “mistérios insondáveis de Deus”, muitos não se dedicam a explorar assuntos tão fundamentais para a existência humana.

Citarei alguns exemplos de paradoxos comuns nessa realidade dual em que vivemos:

Realidade x Ilusão – Devo me dedicar mais ao espírito ou à matéria?

Caos x Perfeição – Devo buscar estabilidade (paz, segurança e equilíbrio) ou me adequar a esse mundo instável?

Ação x Não-ação – Devo seguir minha vontade ou aceitar o que a vida me oferece?

Interior x Exterior – Se todo conhecimento está dentro de mim, por que preciso buscá-lo exteriormente? Devo me isolar ou me relacionar com o mundo? Devo ajudar os outros ou cuidar de mim mesmo?

Poderíamos explorar cada uma dessas questões, mas vamos nos limitar a mencionar dois pontos comuns a serem considerados: o equilíbrio e o nível de ser.

Buda dedicou sua vida a descobrir e disseminar os princípios do “Caminho do Meio”, que ensina a encontrar um ponto intermediário que leve ao bem-estar e à realização espiritual. Isso inclui buscar um equilíbrio entre os aspectos materiais e espirituais da vida, entre o cuidado próprio e a preocupação com os outros, entre outros dilemas apresentados nas questões citadas.

Muitas pessoas têm dificuldade em compreender tais ensinamentos, cometendo o equívoco de considerar o equilíbrio entre as extremidades dos dois polos da dualidade: o negativo e o positivo. Por exemplo: não devo ser nem muito bonzinho, nem muito malvado, não ser tão sincero nem contar tantas mentiras, nem obter tanto conhecimento, nem ficar na ignorância, não ser muito rico nem muito pobre. Contudo, o verdadeiro equilíbrio não deve ser aplicado à dualidade. Em vez disso, devemos transcendê-la, permanecendo apenas na polaridade positiva: verdade, inteligência, abundância, poder, bondade, entre outros atributos.

Podemos ilustrar essa informação utilizando um questionamento bastante comum:

Devo renunciar à riqueza ou usufruí-la? A abundância é um atributo divino e, desde que conquistada de forma honesta, certamente merecemos usufruí-la. O Universo espera que sejamos prósperos, pois esta é a condição natural de sua essência. O equilíbrio, nesse caso, pode ser trabalhado no sentido de harmonizar poder e humildade, quer dizer que é possível demonstrar todo poder inerente à riqueza de uma forma humilde. Esta atitude envolve agir com confiança, competência e autoridade, mas sem arrogância, prepotência ou superioridade sobre os outros.

O equilíbrio deve ser utilizado em paradoxos existenciais profundos, e para isso precisamos levar em conta outro fator muito importante: o nível de ser.

Embora todos possuam o mesmo potencial de crescimento, cada pessoa se encontra em um determinado estágio na jornada evolutiva. Vamos considerar os estágios como degraus com frequências vibratórias distintas, onde uma posição mais elevada corresponde a uma vibração mais alta e, portanto, a um maior poder de atração positiva. Podemos dizer que cada degrau, ou faixa vibratória indica o nível de ser de cada indivíduo.

Devemos levar isso em consideração ao responder tais questionamentos. Por exemplo, se dissermos a alguém egoísta que não é necessário ajudar os outros porque tudo está como deveria e cada um tem o que merece, é possível que essa pessoa se torne ainda mais egoísta. No entanto, essa mesma afirmação poderia ser apropriada para alguém que negligencia suas próprias necessidades em prol dos outros. É preciso sair do degrau do egoísmo, avançando ao degrau da caridade, para somente depois se elevar ao degrau da compreensão de que tudo está certo e de que é necessário priorizar a si mesmo para ser capaz de auxiliar os outros com sabedoria, ou seja, se preencher para depois transbordar.

Considerando os dois pontos apresentados, equilíbrio e nível de consciência, se torna mais fácil compreender os paradoxos e seus diversos pontos de vista. Em relação aos quatro citados acima: o mundo pode ser interpretado tanto como real quanto como uma ilusão, pode parecer caótico, mas revela perfeição em sua totalidade. A sabedoria está em agir, mas sempre com gratidão e respeito aos sinais da vida e, por fim, embora o interior seja de grande importância, também é essencial vivenciar o mundo exterior.

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