É considerável não acreditar em Deus?

Devido à deturpação da palavra Deus, torna-se compreensível que alguém se considere ateu. Esse termo, que originalmente evocava a ordem e harmonia inerentes ao Universo, está agora sobrecarregado de significados religiosos e filosóficos.

Essa palavra vem do latim “Deus”, que por sua vez deriva do indo-europeu *deiwos, que significa “celestial” ou “brilhante”, e acredito que ninguém em perfeita saúde mental possa questionar o brilhantismo do Universo: a posição exata dos astros no espaço, a imensidão dos oceanos, as leis perfeitas e imutáveis, as maravilhas da natureza,  a própria vida em si e o fato de você estar lendo esse artigo nesse momento… tudo é extraordinariamente mágico. 

Crenças religiosas impregnadas no inconsciente coletivo do nosso planeta, ainda remetem Deus a alguém que está distante. Também expressões como: “Deus falou comigo”, “Deus é o Pai maior” ou “Senhor do Universo” confundem a humanidade há milênios. Essa personificação de Deus é fonte de crenças distorcidas a respeito dessa inteligência que rege o Cosmos.

Diversas religiões e a própria tradução da Bíblia, livro mais vendido do mundo, contribuem com a propagação de tamanha confusão. É consideravelmente aceitável a maneira usada no Novo Testamento para se referir a Deus, mas é preciso entender que o Antigo Testamento, que prega a existência de um Deus irado e rancoroso, nada tem a ver com a realidade divina. Embora ambos utilizem a palavra Deus (que sequer existe na Bíblia original segundo Mauro Biglino, tradutor de textos hebraicos), se referem a “divindades” totalmente distintas.

Mas o objetivo aqui não é adentrar em assuntos bíblicos,  muito pelo contrário… é retirar todo romantismo e interpretações errôneas para nos aproximamos o máximo possível do que é Deus. Afinal, como Albert Einstein disse: “Eu quero conhecer os pensamentos de Deus; o resto são detalhes.”

Para isso, vamos seguir um raciocínio lógico: 

Toda criação humana é construída a partir de elementos da natureza, uma vez que a matéria-prima de qualquer objeto criado pelo homem tem origem nos recursos naturais. Geralmente surge a partir de uma necessidade e é seguida de uma ideia, planejamento e ação. Por exemplo: uma cadeira é criada devido à necessidade de sentar; essa ideia surge primeiramente na mente de alguém para depois ser construída. A lei hermética do mentalismo, corroborada pelo “mundo das ideias” de Platão, indica que tudo se inicia na mente, visto que o Universo é mental.

Assim como existe uma inteligência por trás de toda criação humana, também existe uma inteligência por trás da criação do Universo (lei da correspondência,  assim como é abaixo é acima). Só que a inteligência do Universo é claramente maior que a humana. Basta apreciar a natureza em toda sua perfeição para se constatar essa afirmação. 

Uma teia de aranha é um exemplo fascinante de perfeição na natureza. Composta de fios finos e delicados, ela é habilmente construída para capturar presas e sustentar o peso da aranha. Sua simetria, resistência e estrutura complexa demonstram uma engenhosidade impressionante, mostrando como a natureza pode criar algo tão funcional e esteticamente belo ao mesmo tempo. Se levarmos em conta que a aranha é um ser irracional, logicamente existe uma inteligência que a criou dessa forma, assim como tudo que existe.

Analogamente à aranha que age conforme os dados contidos em seu campo de informação, uma máquina inteligente opera em conformidade com a programação estabelecida pelo ser humano. Em ambos os casos, não há uma inteligência intrínseca na entidade em si; a aranha e a máquina simplesmente seguem o que foi inserido em seu banco de dados por uma inteligência maior.

Já está comprovado cientificamente que partículas elementares interagem com um campo invisível que permeia todo o espaço, conhecido como campo de Higgs, e que a interação com esse campo é o que confere massa às partículas. Na época dessa descoberta (2012) o Bóson de Higgs foi denominado por alguns cientistas de “a partícula de Deus”.

O campo de Higgs é apenas um dos campos quânticos presentes no vácuo quântico: estado de menor energia possível do espaço vazio, onde não há partículas detectáveis presentes. O vácuo quântico trata-se de um conceito também comprovado dentro da estrutura da teoria quântica de campos, que é uma das teorias mais bem-sucedidas da física moderna.

É extremamente fantasioso considerar que o Universo foi criado ao acaso ou que “alguém” o criou. O Universo é autoconsciente, de forma que a matéria primordial se manifesta através da união inteligente de partículas elementares.

Se chamamos essa inteligência de Deus, Pai, Senhor, Vácuo Quântico, Ordem ou Consciência Cósmica… isso não importa, o fato é que ela está presente em cada átomo existente. Não se trata de acreditar ou não acreditar em Deus, se você está vivo, automaticamente sabe que Deus existe. Se preferir, pode utilizar também as palavras Universo, Cosmos ou Vida para se referir a Deus. Você não precisa “acreditar” no Universo, basta saber simplesmente que ele existe. De qualquer forma, não permita que crenças distorcidas e limitantes o impeçam de enxergar o brilhantismo, a ordem e a harmonia divina.

Há pouco tempo atrás era comum perguntar: “Você acredita em energia?”. No entanto, essa indagação agora é raramente ouvida. Considero que, em um futuro próximo, a noção de ateísmo perderá espaço à medida que as pessoas transcenderem a confusão e encontrarem diferentes maneiras de compreender Deus. No final das contas, a verdade é uma só,  mas existem muitas maneiras de explicá-la.

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